Poemas de Lucas Menezes
Poemas falam com a alma e com o coração. Nos trazem alento e conforto quando ninguém mais conseguiu. Leia os encantadores poemas de Lucas Menezes Maida e veja a beleza e a paixão de uma forma diferente do que você viu até agora!
O seu sobrenome Lucas Menezes MaidaO seu sobrenome é uma coisa louca
Poemas de amor eterno
Além de seu, ele sempre foi um pouco meu também
O seu sobrenome é uma poupa
Do tamanho de um Melro e tradicional como o Vintém
Eu o quero pra mim e pra quem vier depois de mim
Quero ser colonizado em meus terrenos
Sem míngua nem sobra
Nem uma letra a mais, nem um fonema a menos
Me diz como é que faz
Para apropriar esse substantivo próprio
Essa alcunha, esse "apellido", essa singularidade
Nenhuma palavra, da língua portuguesa, é capaz de adjetivar sua beleza
Eu quero o seu sobrenome na minha identidade
Todos os cartórios já estão avisados
Do Uruguai ao Suriname
Em qualquer parte do Brasil
Quero que o seu sobrenome me acompanhe
Dentre tantos
Silva, Souza, Alves, Santos
Esse substantivo, que ornamenta o teu de batismo
É um dos meus acalantos
Quantas vezes eu já peguei os seus morfemas
E combinei com meus poemas
Para ver se ele me faz bem ou me faz mal
Mas, o seu sobrenome
É maior que todos os livros lidos
Todos os sambas-enredos escritos
E todos os lírios crescidos no vendaval
Eu protegi teu sobrenome por amor
Mas nenhum codinome te veste tão bem
O seu sobrenome é encantador
E, se quiser, pode ficar com o meu também
CopiarCompartilhar
Ela pra mim Lucas Menezes MaidaÉ a voz pro Cazuza
É a maquiagem pro Kiss
É a Ipanema pro Tom
É o peixe grande pro Tim
É o amarelo pra faixa
É o azul pro céu
É o preto pra Pérola
É a independência pro Padre Miguel
É o verde pro Marcelo
É o espelho pro João
É a onda pro Cassiano
É a sétima corda pro violão
É a palhetada pro Hendrix
É a margem pro Ferréz
É a cor pro Djavan
É o improviso pro Jazz
É o breque pra bateria
É o Patriarca pro Vantuir
É o templo pra Udaipur
É o tempo pro Dalí
É o cortiço pro Aluísio
É a água pra Dona Celestina
É a viola pro Paulinho
É a cuíca pro China
É a serotonina pro químico
É a anatomia pra Meredith
É a fruta pro Arcimboldo
É o cachimbo pro Magritte
É o morro pro Bezerra
É a ginga pro malandro
É a área pro Romário
É a Pessoa pro Fernando
É o líquido pro Bauman
É o instrumento pra seresta
É o sereno pro boêmio
É a poesia pro poeta
CopiarCompartilhar
Os poetas Lucas Menezes Maida- Um velho sábio já dizia:
“É preciso comprar arroz e flores
Arroz para viver e flores para ter pelo que viver“
- Outro velho sábio também já dizia:
“A rosa já é perfumada por si só”
Por que então fazer poesia
E falar tanto do perfume da rosa?
- Tem gente que não sente esse cheiro
E só os poetas podem descrevê-lo
Só eles desluzem moinhos de vento
Só eles estão nus e sós ao meio dia
É o exagero de Cazuza
Que graça teria se não fosse assim?
- Seriam então os poetas
Velhos sábios
Que sempre “já diziam”
Ou apenas agentes catalisadores da ignorância?
- Enquanto estudamos isso
Eles vivem isso
Transformam o tédio em melodia!
Todo amor que há nesta vida
É inventado
- Mas, o que diferencia as poesias românticas
Se todas tratam de amor?
- Quadros pintados no mesmo quarto
Momentos artísticos diferentes
Ah, os poetas...
Nós rimos; eles rimam
Se choramos; viramos verso
É como a diferença
Entre a História e a Literatura
Uma conta o que aconteceu
A outra, o que poderia ter acontecido
- A poesia é o libertar?
- Estamos todos presos
Uns mais que os outros
Uns condenados
Outros achando que são livres
- Do que se trata então a poesia?
- Não é catar feijão ou caçar em vão
Mas
A poesia mostra que certas coisas só se resolvem na mão
No fim, os poetas não falam sobre nada
E, assim, falamos sobre tudo
CopiarCompartilhar
Capitão Lucas Menezes MaidaQue você sinta fome
Mas, sempre de bola
Que você faça falta
Mas, nunca na escola
Que você coloque os adversários no bolso
Mas, nunca as coisas dos outros
Que você faça gols de placa
E, nunca desmanche um Gol sem placa
Que você seja o capitão
Nunca, o olheiro
Que a festa na favela acabe em gols
Nunca, em tiroteio
Que você seja quem quiser ser
Buarque com Luiz Gonzaga
Ataque com juíz com zaga
Que você frequente o campo e a concentração
Mas, nunca os dois juntos
Que você seja o primeiro na capital
No Brasil e no mundo
Que você seja o capitão
Nunca, o Nascimento
Tampouco do Mato
Que você fique livre
Da marcação
Da Fundação, da prisão
E do fardado
Que a única coisa que você precise roubar
Seja a bola do adversário
Que você tenha problemas no vestiário
Mas, nunca no vestuário
Que o seu esporte predileto
Seja o mesmo do Nazário
Que você molhe a camisa
De suor, nunca de sangue
Que a única coisa organizada que você veja
Seja a torcida
Que você seja artilheiro
Mas, nunca faça parte da artilharia
Que você fure bloqueios
Nunca moletons
Que você use colete
Nunca à prova de balas
Que você seja assunto na mesa redonda
Mas, nunca na quadrada
Que você seja o capitão
Nunca, o tenente
Que você arme jogadas
E, nunca as quebradas
Que você viva com a bola no pé
E, não morra com a bola no pé
Que você arraste as chuteiras no chão
Mas, nunca o grilhão
Que você bata tiros de meta
Mas, não tenha os tiros como meta
Tire-os da reta
A bola perdida...
A bala perdida…
Que você encontre a bola de bico
E, nunca receba a bala na bica
CopiarCompartilhar
Ministério da Defesa Lucas Menezes MaidaMinha ministra
Volte ao confessionário
Saiba, antes de se sentar nesta cátedra
Que o azul e o rosa saíram do mesmo armário
Meu ministro
Não viva no mundo da lua, com enfaro
Saiba, antes de pilotar este impávido colosso
Que na calça da Classe C, ninguém achou o bolso raro
Minha ministra
Cuidado com a boca
Será que é por conta de as relações serem exteriores
Que vocês se importam tanto com a nossa roupa?
Meu ministro
Esqueça os canhões
Se a mentira tem perna curta
Como que o governo dá pedaladas em milhões?
Meu povo
Toma cuidado com o grito dos maus
E, principalmente, com o silêncio dos bons
Somos a teoria prática do caos
Acredita, não queremos furar moletons
Meu povo
Importa-te com Rachel de QUEIROZ
E verás que “O Quinze” está entre o 13 e o 17
Importa-te com Érico Veríssimo
E verás que a paz lá em Antares é confete
Os parlamentares? Manchete!
Este mundo dá mares
Para além do Bojador
Entre homens sérios, hemisférios, revertérios
Critérios, ministérios, mistérios
Minerais e minérios
Desta igualdade não temos mais penhor
Confundiram um povo heróico com um brado e um tambor
CopiarCompartilhar
Galimatias e discursos verborrágicos Lucas Menezes MaidaUm amor de rimas fáceis, calafrios
Ininterpretável como “Las Meninas” de Velásquez
Um amor de rios, rios e Rios
Daquelas cantarolagens que espanta os males
(Eu te...)
Você não consegue recitar sem me excitar
Cantar sem me cantar
Rir sem me sorrir
Mirar sem me flechar
(Eu te...)
É Nando e Cássia, no mesmo ritmo, tocando relicário
É antídoto marítimo, no vai e vem que traz curas
É uma tarde em Itapuã sem fuso horário
É Dom Casmurro com o Emplasto Brás Cubas
(Eu te...)
Olhares 43, dias 15, tamanhos 13
Amor ao acaso, 204
Como um encontro inesperado
Em uma impressora de trabalho
(Eu te...)
Amei teus melasmas
Plantei tuas Astromélias
Conheci as imperfeições
Fiz delas perfeições
Transformei meu dicionário em Aurélia
(Eu te...)
Você é um rio de Janeiro
E eu; um rio de Março
Riu de mim quando me queimei no mormaço
O seu rio é mais legal, mas é no meu que faço aniversário
(Eu te...)
Nesta embarcação, eu me encontrava a bombordo
Enquanto tu, a estibordo
Uma tempestade da cor dos seus olhos
Transbordou a caravela de escordo
(Eu te...)
Corri chão e cruzei mar, deixei-me levar pelo ar
Usei de fonemas bilabiais para te deletrear
Essas coincidências semânticas alveolares
São o verdadeiro significado do verbo “amar”
(Eu te...)
Você virou Tu
Tudo ficou íntimo, mas ainda doeu
Queria te conjugar mais uma vez
Para que Tu virasse Eu
(Eu te...)
Todas essas verborreias em desengano
Galimatias inúteis de se ler
Todo esse clichê, démodé e blasé
É para falar que eu amo você
(Eu te amo)
CopiarCompartilhar
Vigente Lucas Menezes MaidaTenho preocupações
Sobre o esgotamento da água
Sobre o esgoto a céu aberto
Sobre o Ser Humano e suas mágoas
Sobre o planeta descoberto
O que é potável?
O que é postável?
Depende do filtro...
Tenho cismas
Sobre o presidente eleito
Sobre o futuro da nação
E, a cada sonho REM, quando deito
Sinto que estou perdendo minha religião
Popularizou-se o termo “mimimi”
As ficções são baseadas em fatos reais
E o tempo em que Don Don jogava no Andaraí
Não volta mais
Quer estudar arte? Banksy
Quer fazer arte? Banque-se
Quer apagar arte? Eleja-se
Quer ouvir arte? Elis, já sei!
Mas não quero lhe falar
Das coisas que aprendi nos discos
Tanta coisa aconteceu (creio eu)
A música, hoje, toca na TV e sem chuviscos
Ficou na moda gostar de Raça Negra
Mão criminosa virou mão boba
Nosso discurso ficou limitado aos 15 segundos
E Pronome de Tratamento virou “@”
Quem pensa no tempo também ganha tempo
O futuro do presente me assusta mais que o do pretérito
Lamento...
O futuro presidente vê tortura e faz honra ao mérito
Tormento…
Inquérito...
Luar muda com a maré
Lembrar? Pra quem do futuro é
Vovó firmou na tina
O futuro vai ser ruim da cabeça e doente do pé
Vi gente roubar para comer
Vi gente avisando perigo na esquina
Vi gente roubar por querer
Vi gente do mal sendo bem-vinda
Amanhã foi um dia difícil e ontem será mais ainda
CopiarCompartilhar
Personificação Lucas Menezes Maida(A maior concentração de beleza possível em um rosto humano)
A coloração dos olhos
Verde cristalino
É a matiz do mar de Andaman
Da ilha Koh Phi Phi
Seu nariz, por conseguinte
Constitui uma pirâmide nasal
Fazendo com que Gizé, Quéfren e Quéops
Pareçam construções amadoras
Com ângulos imperfeitos
Já os seios faciais
Nos faz lembrar a hipsometria dos estudos cartográficos
A maçã do seu rosto é o verdadeiro fruto do paraíso de Éden
Representando o primeiro alçar voo de uma borboleta
Seu maxilar, queixo, e toda a mandíbula
São bem definidos
Como os versos do classicismo
Em busca pela sua perfeição estética
São a personificação da coroa, da culaça
E do rondiz de um diamante
Suas cutículas pilosas compõem um cabelo
Que transcende a definição de louro ou moreno
Assemelhando-se às ondas estacionárias da física
Que no surfar dos dedos se transformam
Em maré serena regida por Iemanjá
Por fim, seu sorriso…
É o Sorriso Aberto de Jovelina
O Sorriso de Criança de Ivone
Pigmentado e tingido pela cobertura de neve
Das esbranquiçadas cordilheiras e alpes suíços
É como um piano de cauda Steinway sem os sustenidos e bemóis
CopiarCompartilhar
Crimes que eu não considero Lucas Menezes MaidaFurtar para comer
Flores roubadas
Errar o vernáculo
Redarguir o delegado
Desconsiderar crimes
CopiarCompartilhar
Harmonia em acrasia Lucas Menezes MaidaÉramos Portela e Mangueira
Passarela e bandeira
Mestre sala, quarto, porta e banheira
Eu, súdito como as nuvens para o céu
Ela, Independente como Padre Miguel
Desde Nenê que eu sou assim (e quem sofre é o tamborim)
Gosto do sereno, ir pra roda cantar
Planta do pé no asfalto, Partido Alto
Então aproveite o recuo da bateria e Vai-Vai Vadiar
O Tom foi menor do que eu esperava
Mas bastou
Meu olhar X9 me dedurou
E, se chove no sambódromo,
É porque Deus regou
O jardim de minha escola é só amor
Quem ama seus males espanta
E na Flor da Mocidade, bem Jovelina
A ladra que guarda a minha quadra
Minha Pérola Negra, minha sina
Foi um rio que passou na avenida
O “quaiscalingudum” de um coração partido faz cavaco chorar
É o Império de um apartidário político
Soa alto como um bom partido
E faz a dispersão sambar
Quando as platinelas do pandeiro entortarem
E o gorgurão da cuíca secar
Você talvez perceba
Que eu era pimenta demais pro teu vatapá
Sonho de bamba, pesadelo de valsa
Brisa boa, ar lindo, cruz, luz e vela
Ao mesmo tempo em que colore o meu pavilhão
Você mancha a minha faixa amarela
Somos Portela e Mangueira
Alegria na quarta-feira
Mas não te faço carnaval
Pois carnaval é fevereiro
Faço-te pagode para o ano inteiro
Quando ela diz que Samba é o meu único assunto
Eu respondo quaisquer quais quais
E firmo:
“É lindo quando dois grêmios ganham juntos”
CopiarCompartilhar
Se achas/Desabafo de poeta Lucas Menezes MaidaSe achas que minha rima te liberta
Mal sabes o quanto ela me prende
O meu coração disserta
A minha razão é que, ao verso, se rende
Se achas que minha métrica te folega
Mal sabes o quanto ela me sufoca
É como um ato que segrega
É como cachecol pra carioca
Se achas que minha gramática te alenta
Mal sabes o quanto ela me amarra
É como beleza externa, aparenta
E a interna, uma eterna algazarra
Então, por que nós, poetas, escrevemos?
Pois os que leem se sentem bem
Não pelos amores que nós temos,
Mas pelo o que eles não têm
CopiarCompartilhar
Romance Analfabeto Lucas Menezes MaidaEu sabia seu ponto “G”,
Poemas sobre o significado do amor
Mas na hora “H” do dia “D”
Um plano “B” que improvisei
Veio a calhar
Apertei a tecla “F”
E num blefe disse “Mova-se”
Eu só volto quando eu for seu plano “A”’
Resolvi me despedir, vou por aí
Vou botar o pingo no “I”
E deixar um “Q” de saudade
Assim ela ficando só
Talvez perceba que é o “Ó”
Não ser amado de verdade
Seu corpo era uma curva em “S”
Sua boca, o quociente em fração
Seu coração inconsequente
Bombeava sangue quente
Seu consciente era o “X” da questão
Todo dia ao amanhecer
Ela era vitamina “C”
E aumentava a minha imunidade
Era azeite de dendê
Mas eu quis Vitamina “D”
Sair na rua e tomar sol pela cidade
Dentre “N” opções
Entre bares, corações
Rodas, amigos e canções
Eu te escolhi
Esse B.O não é mais meu
Eu não plantei o que tu deu
Pra tá colhendo o que eu colhi
Seu corpo era uma curva em “S”
Sua boca, o quociente em fração
Seu coração inconsequente
Bombeava sangue quente
Seu consciente era o “X” da questão
CopiarCompartilhar
Mariana Lucas Menezes MaidaQuando eu vi Mariana
Versos e prosas para namorados
Na sua forma mais linda
Não percebi que ainda
Estava cercada em liberdade
Eu, que bebia na sua fonte
Carrego escombros túrbidos
E os meus ombros úmidos
Se enfraquecem de saudade
O Sol que arde dentro de nós
Justifica essa sobrecarga
A foz, a voz, avós a sós
Inundam essa vida amarga
Se, no seu passo tímido, eu encontrei paixão
É porque seu ritmo me engana
Rio doce que me afoga de sal, hipertensão
A vida insiste em continuar, Mariana
No seu vestido terracota escuro
Eu escorri como dois rios inteiros
Sem direção, contramão
Ação de um empreiteiro
Você virou minha obra mais bela, Mariana
Construída pelo Pai, pela Mãe
Pelo Espírito Santo
Amém e amem
Destruiu hectares de acalanto
O que restou da nossa vida leve
Vida louca, vida breve?
Leva uma vida bela
Como uma chuva que escreve
Eu sem você, Mariana
É uma família sem casa
É uma cidade sem água
É uma nódoa sem mágoa
É um pescador sem o peixe
Agricultor sem o feixe
Um Índio sem tribo
Farinha sem trigo
Mariana foi um rio que passou em minha vida
Assim, efêmera, líquida
Não mais insípida, tampouco incolor
Inodora, e agora?
Mariana, você roubou o meu amor
CopiarCompartilhar
Meio bossa nova e rock'n'roll Lucas Menezes MaidaEla é uma Blitz na hora do Rush
No meio da Highway to Hell
De veludo com um revólver
Aponta a escada para o céu
Quer seu nome brilhando em Led
No corpo de um Zeppelin
E uma placa Metallica
Escrito “eu te quero só pra mim”
Ela discute signos, sou peixes
Dead Fish nas Águas de Março
Ela é Scorpions, decidida
Leva a sério, mas eu disfarço
Minha Queen mal sabe
Que Ultrajes rigorosos não me comovem
Ela me xinga, eu respondo: “U2”
E continuo sendo um Bon jovem
Mas eu lhe dou um Kiss
A gente esquece as Guns
Foca nas Roses
Que Ogum exime os afãs
Quando tudo estiver Red e Hot
Ela atinge na minha cama
O bpm da MPB
E o estado de Nirvana
Fica tudo no Bem Bom
Toco um love song
Acabou o chorare
You shook me all night long
Seu Nelson Motta deu a nota
Que hoje o som é rock'n'roll
E esse clipe sem nexo
Faz parte do meu show
CopiarCompartilhar
Rei de Roma Lucas Menezes MaidaNunca vou decifrar os enigmas do universo
Tudo pode ser uma falácia
Nunca vou saber os motivos que unem versos
Por rimar em apenas uma galáxia
Se o mundo é redondo
O último já está na frente do primeiro
E se o mundo dá voltas
A posição não importa
E não muda o roteiro
Sou a tempestade em copo d’água
Por ser um fenômeno intenso
Em um recipiente pequeno
Sou a hipérbole das minhas mágoas
Por escrever o que penso
E destilar meu veneno
Desconfie de tudo
Até a palavra “oxítona” é proparoxítona
Desconfio de todos
Mesmo que a reverência soe uníssona
“Em cima do muro” já não é mais o termo
Pois não sabem se constroem ou se destroem
Indeciso, sem partido e sem governo
Vendo reinos em ruínas de ratos que se roem
É preciso choro para ter vela
É preciso ter muita boca para ser o rei de Roma
O rei do morro tem todas e não saiu da favela
E o rato roendo a roupa de quem não tem diploma
A carne tem papelão
Mas não é o mesmo do morador de rua
Pois ele dorme no chão
E a verdade nunca foi tão carne crua
Falsos ativistas atravancando caminhos
São cordeiros em pele de lobo
Mostrando ser o que não são para a mídia
Mais falso que carta arrependida de ator da Globo
Passo por passo, marcha a opressão
Eles andarão, nós Andorinha
Adoraria que a minoria fizesse verão
Só para o inverno sair de linha
CopiarCompartilhar
À mesma Lucas Menezes MaidaÀ mesa uma taça e ao lado o barril
Dois corpos se amando e se protegendo do frio
No inverno é sereno, diferente do verão
Junto ao calor, foi-se a paixão
À mesa o jantar e no centro um queijo
Um corpo se lembrando do primeiro beijo
Ele tinha o véu, mas ele tem o inverno
Tradicional sommelier a sós com seu terno
Na adega o tinto francês, o branco e a esperança
No coração invernal a eterna lembrança
Mais uma dose, observando Marseille pela janela
Olha para a porta, mas nunca vinha ela
Ele relação com seu interior
Ela relações internacionais
Ele escrevendo sobre amor
Ela escrevendo jornais
Ele saúde, ela santé
Ele tinto, ela rosé
Ela mal acompanhada, ele sozinho
Ela vinha, ele vinho
CopiarCompartilhar
Carta de amor Lucas Menezes MaidaRidícula igual todas as outras
Esdrúxula igual Álvaro um dia escreveu
É ridícula por ser de amor
E digna de quem já sofreu
Escrevo mesmo assim
Sem vergonha de ser patético
Cético a ponto de acreditar
E acreditando a ponto de ser cético
Você me fez voar mais alto do que Dumont
E escrever melhor do que Drummond
Eu sei que vou te amar em cada despedida
Mais do que a música do Tom
Ave de rapina, sofisticada como anis
Minguante como 1/3 da lua
Depois de 14 beijos, eu pedi bis
E lembrei ¼ de você nua
Estudei as três do romantismo
Para chegar à fase que estou
Inexplicável e surreal como Ismália
Que por um sonho se jogou
Vivo a “Lira dos Vinte Anos”
Cantando a “Canção do exílio”
Boêmio urbano
Postiço como um cílio
Descartável igual flecha
Fiz cego ver, milagre de um cupido
Dancei com o seu cabelo
E te ganhei com uma fala mansa ao pé do ouvido
Prometi a mim mesmo
Que não ia escrever uma carta de amor
Mas escrevi, não só para depor
Mas para não ser
Ridículo
CopiarCompartilhar
Entre tópicos e trópicos Lucas Menezes MaidaGarota carioca, o seu rosto é Laranjeiras
Sua pele que me toca, o teu corpo é Mangueira
Curva
Da Urca, gira enfeitiçada da Tijuca
Que girou
Me sinuca, me truca
Pede 6
E desce do Troncal 3
Eu quero 12
Você na areia fazendo pose
Outro close, escolhe qual foto que você quer
Não quero um romance igual o do Buscapé
Quero jongo à luz do luar, sal e o sol que me consome
Quero escola de samba, mas sem Beija-Flor de codinome
É por mim, por você, por Ogum e Iansã
É pela terra, pela carne, pelo samba no morro
Vou guardar o seu amor toda manhã
Com senha e corrente num cofre boca de lobo
Do topo da favela numa varanda
Penso em uma sacada pra te impressionar
Uma que te deixe mais contente
Do que qualquer uma de frente pro mar
Entre caminhos e passeios pela orla
Ela é prata como a areia que pisamos
Dois pássaros soltos da gaiola
Presos na liberdade que criamos
Somos todos um bando de perdidos
Nos encontrando nos desencontros
Procurando, em lojas 24 horas, livros já lidos
Com finais de frases sem três pontos
Entre tópicos e trópicos, quero andar aí
Estar aí, de Cosme Velho até o Andaraí
Ver o Pôr do sol tingido de laranja, resfriando o calor
No asfalto de Ipanema, indo pras pedras do Arpoador
Ela é tão preto e branco, mas cheia de cor do lado
Um amor panóptico de cima do Corcovado
E a cidade não estava mais cinza
O Cristo rasgou as nuvens do céu nublado
CopiarCompartilhar
O infinito do infinitivo e a participação do particípio Lucas Menezes MaidaO mar e o céu
O néctar e o mel
O “amar” e o véu
O particular e o infiel
O linguajar e babel
O ar e o corcel
O bar e o chapéu
O surtar e o cruel
A chegada e a partida
A estrada e a avenida
Abalada e abatida
A parada e a corrida
A amada e a traída
A Kahlada e a Frida
A curada e a ferida
CopiarCompartilhar
Vanguarda Lucas Menezes MaidaSubstantivo feminino
Poemas sobre a vida
Com todas as fases da literatura
Seu corpo é só poesia
E por isso prende a minha leitura
Seu cabelo, reticências
Suas pernas, versos prontos
Sua boca é uma cantiga
Suas pintas são os pontos
Uso a língua para marcar suas páginas
Torno meu hábito mais prático
Não deixo a sua aventura chata
Como um livro didático
Quero ler seu corpo desde as orelhas
Desde a contracapa até o prefácio
Sem ordem, objetivo e simples
Naturalista como José Bonifácio
Suas antíteses barrocas
Dividem meu desejo
Quero os prazeres mundanos
De tudo que eu vejo
A salvação está na paz bucólica
No “Fugere Urbem” do Arcadismo
Sua respiração é o Carpe Diem
Que me deixa à beira do abismo
Seus olhos simbolistas
Transcendem o surreal
Faz-te arte pela arte
Parnasiana, rigor formal
Capítulos divididos
O miolo eu sei de cor
Por isso que lhe traduzo
Em redondilha maior
Não te faço um haicai
Pois isso não lhe transcreve
Faço de ti um texto longo
Com conteúdo leve
Seu corpo é um manifesto
Estruturado em cada etapa
Em cada vírgula
Ah, se eu tivesse julgado pela capa...
CopiarCompartilhar