Cartas para se assumir transexual

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Me amo assim

Tive muito tempo pra olhar pra dentro. Tive muito tempo pra me perceber existindo nos lugares, nas relações e na minha intimidade. Tive tempo de pensar, de pesquisar, de estudar, de tentar compreender todos os meus sentimentos, e ainda que esse tempo não existisse, seria inevitável que esse momento chegasse. A verdade sempre fica ali batendo na porta, implorando pra entrar. O que muda é o tempo que você decide ignorar — e eu não podia ignorar por muito tempo. Eu tenho que revelar que sou uma pessoa transexual. Esse é um momento extremamente delicado na minha vida, e feliz também. Sinto que finalmente entendi um estranhamento que me assombrava. Não conseguia encontrar resposta, mas agora eu sei. É o momento de passar pela transição, de me entender de novo no mundo e de me reconstruir. Mas eu já sinto o sabor do amor-próprio, da vida que me espera, do lugar aonde quero chegar. Sei que vão tentar me impedir, mas eu não vou deixar. Eu juro que nunca vou deixar. Eu me amo assim!

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Eu amo ser quem eu sou

Eu sou um oceano! Tem tanta vida dentro de mim, tem tanto amor disposto a ser partilhado, tem tanta bondade e tanta gentileza. Eu sou o mar, aquele mar leve e bonito que fica lindo no finzinho da tarde. Eu sou uma pessoa que ama quem me ama e ama estar com outras pessoas. Eu também sou uma pessoa transexual! Essa é a informação mais valiosa sobre mim, que faz toda diferença na visão que as pessoas têm de mim, como se as minhas qualidades não tivessem valor. Como se eu deixasse de ser importante, mas eu não sou e não vou deixar que me façam acreditar nisso. Dentro de mim só cabe aceitação e felicidade, então o veneno da sociedade não me atinge. Eu me amo demais pra me submeter ao preconceito. Eu sou uma casa aberta que adora receber visitas e acomodar pessoas. Veja-me veja além do seu preconceito, sinta-me além do seu preconceito. Minha transexualidade é o que me faz ficar em pé, entenda essa importância.

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Eu renasci

Ainda que eu tenha tentado lugar contra isso, não consegui vencer. Meu maior oponente foi eu! Que ironia, né? Dois pedaços fragmentados de mim brigando para tomar a atitude que vai mudar minha vida. Eu me conectei comigo para poder revelar que sou transexual. Encontrei minha transexualidade na beleza da minha poesia, na complexidade da minha existência, nas dores sempre vividas, mas nunca compreendidas por mim. Era a transexualidade que pedia espaço na minha vida, que vivia sussurrando no meu ouvido que estava ali me esperando. De repente virei os olhos para ela, sorri e disse: "Vem". E aqui estou, com a proteção da minha alma, com a bênção dos que me cuidam e com a alegria de criança quando está fazendo aniversário. Eu renasci, tenho certeza disso. Renasci para mim, para os outros e para o mundo.

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O orgulho de quem sou

Queria encontrar a forma certa de dizer aquilo que tive medo de dizer em voz alta, mas hoje eu faço questão de dizer: EU SOU TRANSEXUAL. Só sei sentir orgulho, uma satisfação enorme de finalmente poder dizer para todos quem eu sou. É uma honra em fazer parte da comunidade trans e poder encontrar acolhimento a partir do que sou de verdade. Não escolhi ser assim. Simplesmente sou, e a sociedade tenta dificultar tanto essa descoberta que faz com que a gente ache que tem algo de errado, que tem algum problema em se entender assim, que não é possível ser assim. Mas é possível, é possível demais. E eu estou na disposição de conquistar o que é meu, de conquistar o meu espaço mostrando minha verdadeira cara, minha verdadeira forma, mostrando o que está dentro de mim, dentro da minha essência. Eu sou transexual, vou sempre repetir essa verdade que tentaram calar. Sinto orgulho e amo cada parte de mim.

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Usar a minha voz

Eu não preciso de cura, eu preciso de acolhimento. Eu preciso contar para todos sobre mim, sobre algo que define muito da minha existência: eu sou transexual. E tenho total segurança nisso, absoluta certeza, então não preciso que ninguém me questione. Preciso que me respeitem. Decidi tomar a melhor decisão possível, a de tirar esse peso das minhas costas, esse fardo que não me pertence, pois não tenho culpa de ser quem sou. Quem colocou esse fardo em mim foram os outros! Ser transexual não é apenas algo que me define, é o que eu gosto de ser. É o que preciso e quero ser, ainda que não tenha sido algo que escolhi para mim, fico feliz de ter vindo pro mundo desse jeito. E essa força que guardo no peito é o que vai guiar minha transição e minha afirmação. É com essa força que vou fazer a diferença. É com essa força que vou usar minha voz.

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O meu novo florescer

Eu nunca deixei que me determinassem. Dentro de mim, eu sempre soube que algo corria numa velocidade diferente, que minha frequência era outra. Eu não entendia exatamente o que era… A única coisa que eu entendia de fato era que isso não seria fácil. As pessoas não aceitariam e eu teria que lutar muito pelo direito de existir da maneira que eu determinasse. Quem me determina sou eu, e eu preciso fazer isso, não há mais razão para esconder. Eu sou transexual, essa é a minha identidade e essa é a forma que eu quero me apresentar pro mundo. Que não vai ser fácil, eu já sei, conheço o mundo em que vivo, mas esse mundo vai ter que me respeitar, pois o que eu sou não machuca ninguém. Eu nasci assim, não posso ser de outro jeito. Eu espero encontrar acolhimento, afeto e cuidado nessa minha caminhada. Que as pessoas que me amam consigam me compreender e estar comigo. Não há nada de ruim em ser transexual, pois é um novo florescer pra mim.

Tudo tem o seu tempo: pense sobre isso com esse conteúdo

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Eu quero gritar

Nesse momento eu preciso me escolher, preciso priorizar os pedidos do meu corpo, preciso respirar fundo, fechar os olhos e ouvir o que meu coração quer dizer. Meu coração pediu que eu contasse aquilo que não está mais cabendo dentro de mim, aquilo que as pessoas tentam esconder por medo, mas agora que compreendi me sinto tão invencível que não sobrou medo nenhum. As pessoas deviam é ter medo de sentir preconceito, isso sim. Eu me escolhi, eu escolhi exercer o que meu corpo está implorando. Eu sou transexual. E agora que não tenho mais medo de dizer, eu posso voar. Posso ser livre, posso sorrir com a certeza de que estou sorrindo de verdade, que é um sorriso de alguém que sabe o que quer e sabe quem é. Eu sei quem eu sou. Eu sou transexual, repito. E eu diria isso muito mais vezes! Eu gritaria para que todos ouvissem: eu sou transexual.

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O que me libertou

A minha tentativa é a de aproximar as pessoas de mim, mas só quero ao meu lado quem, sabendo quem sou, me conhecer, me aceitar, me respeitar e me acolher. O que eu preciso deixar claro é que eu sou uma pessoa transexual. Talvez essa seja uma informação surpreendente pro momento, mas eu não posso me relacionar mais sem que as pessoas saibam. Quem continuar ao meu lado vai provar o seu afeto. Quem não puder estar comigo, é uma pena, mas não é hora de me lamentar. É hora de focar naqueles que estão contigo sempre. É hora de olhar pra mim com amor e compartilhar esse amor com quem estiver precisando, pois é assim que funcionaria o mundo ideal: uma grande rede de afetos. Minha transexualidade é a minha bandeira, é o meu posicionamento, é como eu nasci, é o que vou carregar comigo por toda a minha vida. A minha transexualidade é o que me libertou.

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Minhas flores

Eu me recuso a aceitar o pouco que a sociedade me oferece. Eu quero muito mais, sempre mais. Eu quero as quatro estações, quero dançar na chuva, sentir o Sol me cobrir, admirar as flores surgindo pelo caminho e admirar os pássaros voando no fim de tarde. Eu quero tudo de melhor que o mundo tiver pra mim. É por esse motivo que preciso dizer algo essencial sobre mim. Eu sou transexual! Não quero falar da tristeza, dos receios, da sociedade transfóbica ou da falta de apoio e de oportunidades. Minha pauta é outra: eu quero falar sobre a beleza mágica de ser trans. Quero falar sobre a experiência de me reconhecer, de me entender nesse corpo e de me adequar ao que sou dentro de mim. Eu quero falar sobre as flores. As flores que nasceram na minha pele desde que comecei a me entender como pessoa trans. A raiva do mundo, eu combato com as flores que preenchem meu corpo.

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O amor da vida

Sempre senti que havia algo em mim que era diferente, algo que eu não ouvia ninguém falar sobre, sensações que parecia que ninguém sentia. Um desconforto, uma inadequação, uma sensação de estar sempre distante das pessoas, da vida e do cotidiano. Até um dia, quando me olhei no espelho, e vi tinha algo muito diferente de mim no reflexo. Na verdade, era eu… Era quem eu sempre fui, só não tinha reconhecido e olhado com calma, mas eu estava ali o tempo inteiro. Só faltou olhar com o afeto necessário para que eu pudesse me acolher. Eu me abracei, eu me aceitei, eu me amei e continuo assim. Isso tudo pra dizer que sou uma pessoa transexual, que todo esse processo é sobre essa informação. Acreditei ser diferente dos outros e estar fora do lugar, mas não era nada disso. Eu só precisava me aceitar pra entender o meu lugar. E o meu lugar é na felicidade de quem me quer ao lado, de quem me respeita e me aceita. É só com isto que eu me importo: com o amor da vida.

Leia aqui sobre amor-próprio: ninguém vale mais do que você!

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