O que é?O Haikai (ou haicai) é uma pequena poesia com métrica e molde orientais, surgida no século XVI, muito difundida no Japão e que vem se espalhando por todo o mundo durante este século.
Possui uma longa história que retoma a filosofia espiritualista e o simbolismo Taoista dos místicos orientais e mestres Zen-budistas, que expressam muito de seus pensamentos na forma de mitos, símbolos, paradoxos e imagens poéticas. Isto se deve à tentativa de transcender a limitação imposta pela linguagem usual e pensamento linear e científico que trata a natureza e o próprio ser humano como máquina. Na filosofia Zen, assim como no Haikai, é necessário ter introspeção e análise mais profunda, fazendo-se perceber e descobrir curiosos e belos fatos naturais que de outra forma passariam despercebidos. O objetivo é capturar a essência do local numa poesia contemplativa e descritiva com grande valorização nos contrastes, na transformação e dinâmica, na cor, nas estações do ano, na união com a natureza, no que é momentâneo versus o que é eterno (ruptura do contínuo) e no elemento de surpresa. É uma forma extremamente concisa de poesia que gira em torno de uma série bem definida de regras, mas nem sempre obedece sua forma original, podendo ser adaptada para diversas circunstâncias.
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Gripe Leila MíccolisGripe forte? Não!
Apenas adormeci
entre espirradeiras.
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Popular Thiago MarxPopular é aquilo
que toca o indivíduo,
sem deixar de generalizar.
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Lábios Evandro MoreiraFica uma pergunta:
– teus lábios, flores molhadas
ou taça de cicuta?
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Palmeira Millôr FernandesA palmeira e sua palma
Ondulam o ideal
Da calma.
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Ameixas Paulo LeminskiAmeixas
ame-as
ou deixe-as.
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Linha do Corpo Alice RuizCorrendo risco
a linha do corpo
ganha seu rosto.
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Lago Eunice ArrudaÀ beira do lago
aliso o brilho da lua
com as mãos molhadas.
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Sombra André DuhaimeMinha sombra
com pernas mais longas
não me afasta.
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Primavera Guilherme de AlmeidaNós dois? – Não me lembro.
Quando era que a primavera
caía em setembro?
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Trovão Nenpuku SatoUm trovão estronda –
e os trovõezinhos ecoam
na selva em redor.
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Dizer Paulo LeminskiTudo dito,
nada feito,
fito e deito.
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Carrapicho Anibal BeçaNo ocaso do outono
só o carrapicho gruda
na velha calça.
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Cerejeira Eugénia TabosaSobre o varal
a cerejeira prepara
o amanhecer.
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Borboleta João AcuioPétala amarela
a borboleta saltou
sem pára-quedas.
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Mão Gabriela MarcondesMinha mão vazia
Esperando a sua
Encontro que cria.
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Casa Grande H. Masuda GogaPaineira em flor:
Casa-grande abandonada,
sem telha nem porta.
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Pescador Alonso AlvarezUm pescador remando
o mar rimando
alguém admirando.
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Vento Anibal BeçaNo embalo do vento
palmeiras se abraçam:
dois amantes?
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Luz Carlos SeabraOlhos de gato
luz dos faróis na noite
pulo no mato.
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Folha Paulo FranchettiDentro da mata –
Até a queda da folha
Parece viva.
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Formiga Ricardo SilvestrinNo mesmo galho
uma formiga a passeio
outra a trabalho.
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Viver Paulo LeminskiViver é super difícil
o mais fundo
está sempre na superfície.
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Som Guimarães RosaSussurro sem som
onde a gente se lembra
do que nunca soube.
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Dane-se Paulo LeminskiQue tudo se dane
disse ela
e danou-se toda.
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Paisagem Paulo FranchettiQuando me canso da paisagem
Do leste, viro a cadeira
Para oeste.
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SolidãoSolidão no ninho
O pássaro se assusta
no eco do trovão.
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