Frases de Zé Ramalho
Dos versos de cordel aos elementos da Jovem Guarda, a música de Zé Ramalho é dotada de muita sonoridade, ritmo e brasilidade. Conheça as opiniões de um dos grandes nomes da MPB.
Unanimidade Zé RamalhoNunca procurei saber de nada. É arrogante e equivocado esse posicionamento. Nenhuma reivindicação será unânime! Os artistas têm cabeças diferentes. Alguns podem pensar parecido, mas ninguém jamais verá unanimidade nestas questões. Hoje em dia, pode-se quase tudo.
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Sabedoria Zé RamalhoNada sei do que eu queria saber.
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Medo da morte Zé RamalhoNão sei se sentir medo da morte é estar na frente de um assaltante com uma arma apontada, ou estar dentro de um edifício em chamas. É um conceito humano, o medo.
Agora, esperar essa passagem final com consciência é uma outra história. E não seria medo, seria mais a saudade e a tristeza de deixar entes queridos. Essas coisas nos fazem querer ficar vivos.
E o prêmio maior é morrer durante o sono, como Carlitos, que morreu dormindo, Carlos Drummond de Andrade e outros que mereceram fazer a passagem sem saber que a estavam fazendo.
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Boatos Zé Ramalho, sobre a notícia de sua morte, em 2014Eu não guardo mágoa.
Isso é um fenômeno dos tempos em que vivemos. Ridículo é a pessoa ler uma notícia desse tipo e não checar com a fonte verídica! Ora, quando deram esta notícia de que eu tinha morrido, eu estava fazendo show em Salvador. Estava em uma turnê pelo estado da Bahia e vi a aflição dos empresários de locais onde eu iria me apresentar para desmentir e confirmar a minha presença.
Cito aqui o grande poeta do absurdo, Zé Limeira, que disse: "Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro". Hoje estou completamente recuperado, gozando de saúde plena, fazendo minha turnê e planejando todos esses eventos dos quais falamos.
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Protestos e política Zé RamalhoEsses protestos têm um quê de razão. Mas tornam-se panfletários, agressivos. Protestar contra a realização da Copa do Mundo é uma idiotice. Porque todos os que estão protestando estarão no estádio assistindo. É uma mesquinhez, um pensamento mesquinho, escolher este motivo para protestar contra gastos do governo.
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Sinônimos Zé RamalhoQuanto tempo o coração leva pra saber
Que o sinônimo de amar é sofrer?
No aroma de amores pode haver espinhos
É como ter mulheres e milhões e ser sozinho
Na solidão de casa descansar
O sentido da vida encontrar
Quem pode dizer onde a felicidade está?
O amor é feito de paixões
E quando perde a razão
Não sabe quem vai machucar
Quem ama nunca sente medo
De contar o seu segredo
Sinônimo de amor é amar
Quem revelará o mistério
Que tem a fé
E quantos segredos traz
O coração de uma mulher?
Como é triste a tristeza
Mendigando um sorriso
Um cego procurando a luz
Na imensidão do paraíso
Quem tem amor na vida,
Tem sorte
Quem na fraqueza sabe
Ser bem mais forte
Ninguém sabe dizer onde a
Felicidade está
O amor é feito de paixões
E quando perde a razão
Não sabe quem vai machucar
Quem ama nunca sente medo
De contar o seu segredo
Sinônimo de amor é amar.
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Cidadão Zé RamalhoTá vendo aquele edifício, moço?
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Era quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar
Hoje depois dele pronto
"Óio" pra cima e fico tonto
Mas me vem um cidadão
E me diz desconfiado: - Tu tá aí admirado
Ou tá querendo roubar?
Meu domingo tá perdido
Vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar o meu tédio
Eu nem posso "oiá" pro prédio
Que eu ajudei a fazer
Tá vendo aquele colégio, moço?
Eu também "trabaiei" lá
Lá eu quase me arrebento
Fiz a massa, pus cimento
Ajudei a rebocar
Minha "fia" inocente
Vem pra mim
Toda contente:
- Pai, vou me matricular
Mas me diz um cidadão:
- Criança de pé no chão aqui não pode estudar
Essa dor doeu mais forte
Por que é que eu deixei o Norte?
Eu me pus a dizer: Lá a seca castigava
Mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer
Tá vendo aquela igreja, moço?
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu "trabaiei" também
Lá foi que valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse:
- Rapaz, deixe de tolice
Não se deixe amedrontar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio
Fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asa
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar.
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Início Zé RamalhoApesar de eu ter nascido em Brejo do Cruz, e não "da" Cruz, como muita gente confunde, por causa da música do Chico Buarque, depois de dois meses meu avô conduziu a família pra Campina Grande, onde ficamos até 1960. É lá que, pela primeira vez, eu escuto rádio, com 5 anos de idade. As rádios AM eram a única novidade, as novelas do rádio e os programas de auditório ao vivo. Na Rádio Borborema vi show de Marinês e sua Gente, Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga. Lembro que tivemos que ir pra João Pessoa, porque meu avô sofria de pressão alta e Campina Grande fica em cima da Serra da Borborema. Aos 13 anos, quando o intelecto foi se abrindo, a música ganhou mais força. A Jovem Guarda começou a aparecer para mim. Especialmente, Roberto Carlos e Renato & Seus Blue Caps. Eu estudava no colégio Pio X, dos Irmãos Maristas, em João Pessoa. E, nesse colégio, de educação extremamente fina, nos jograis que a gente tinha quefazer uma vez por mês, um dos trabalhos era organiza rum grupo musical em cada classe. Depois fazer uma espécie de concurso entre os alunos. Eu já sabia dar três acordes no violão. Juntaram outros dois colegas. Fizemos uma apresentação que fez muito sucesso.Aquilo criou uma chispa. Acendeu em mim a chamados grupos de baile, pode-se dizer. Dali, logo depois passei a procurar os músicos que tocavam nos bailes pela cidade de João Pessoa. Eram muitos.
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Grandes músicos Zé RamalhoO Yamandu Costa, por exemplo, é um fenômeno de habilidade. Não é comum aparecerem músicos dessa qualidade. Perdemos um dos maiores sanfoneiros, Dominguinhos, que fazia parte dessa seleta dimensão musical. Armandinho é outro fenômeno. Mais dois dos maiores músicos do nosso país e talvez do mundo, com quem tive o privilégio de conviver e a felicidade de tê-los tocando para mim, foram Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti.
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Geração de talentos Zé RamalhoA minha geração, que surgiu no final dos anos 70, e a que me antecedeu são de altíssima qualidade, há um padrão das arquiteturas musicais, em todos os estilos, principalmente no que se chamou MPB. Não vejo uma sequência de geração com a mesma qualidade. Os próprios mercados sertanejo, de pagode e de música baiana transformaram-se em desesperados autores à procura de um espaço para tocar suas músicas malfeitas e com letras chinfrins. Estou falando isso porque você me perguntou, não ando dizendo essas coisas de graça.
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Hobby Zé RamalhoMedito, escuto música eletrônica e vejo alguns filmes com minha mulher, depois das 23h. Meu hobby é estar com a família, ver os filhos crescerem e avançarem na sociedade e ter prazer e alegria em contemplar essas simples coisas.
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Sucesso Zé RamalhoO sistema está muito mais selvagem. Nos anos 70, havia uma carência de autores na música brasileira. Hoje é essa profusão de jogadas, de gente que vira artista da noite para o dia. O sujeito entra numa Casa dos Artistas e depois de 15 dias sai um artista, com disco, fã-clube.
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Antigalãs Zé RamalhoNão teria chances hoje, que se exige um padrão de beleza. Você tem que ter corpo bonito, não pode ter barriguinha. Nem eu, nem Fagner, Alceu, teríamos chance, porque somos os antigalãs. O formato da gente é o de compositor nordestino. Se chegássemos hoje, iríamos disputar o espaço com um monte de bonitões aí, que fazem três acordes e impressionam.
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Chão de Giz Zé RamalhoEu desço dessa solidão
Espalho coisas sobre um chão de giz
Ah, meros devaneios tolos a me torturar!
Fotografias recortadas em jornais de folhas, amiúde…
Eu vou te guardar num pano de guardar confetes
Eu vou te jogar num pano de guardar confetes
Disparo balas de canhão
É inútil pois existe um grão-vizir
Há tantas violetas velhas sem um colibri
Queria usar, quem sabe, uma camisa de força ou de vênus
Mas não vou gozar de nós apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar, gastando assim o meu batom
Agora pego um caminhão, na lona vou a nocaute outra vez
Pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar
Meus vinte anos de boy, that’s over baby! Freud explica
Não vou me sujar fumando apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom
Quanto ao pano dos confetes, já passou meu carnaval
E isso explica por que o sexo é assunto popular.
No mais estou indo embora, no mais estou indo embora
No mais...
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Admirável gado novo Zé RamalhoVocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer
Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!
Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou!
Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!
O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam esta vida numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A arca de Noé, o dirigível,
Não voam, nem se pode flutuar
Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!
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