Cartas para se assumir gay
“Sair do armário” não deveria ser algo revolucionário, porque a orientação sexual de alguém só deveria dizer respeito a ela e às pessoas com quem se relaciona afetivamente. Já que vivemos, porém, em uma sociedade em que a autoafirmação é considerada importante e é cheia de pessoas curiosas, “assumir-se gay” deveria, ao menos, ser um processo pacífico. Se você é alguém que já cansou do escuro de dentro do armário e da solidão que pode ter ali, mas não sabe muito bem como falar sobre o assunto com sua família, amigos ou para sociedade no geral, fizemos uma série de cartas e mensagens sobre o assunto, para servir de inspiração para esse momento tão lindo e importante. Boa sorte!
O começo de mimEu nunca me senti inteiramente parte das coisas das quais participava, tanto na infância ou até mesmo em uma parte da adolescência. Sempre tive a impressão de participar dos momentos como sendo uma terceira pessoa, só observando aquilo que “eu” fazia, ouvindo os outros à minha volta de uma maneira vazia e sem muito propósito.
Demorou muito para eu entender o que estava acontecendo e porque eu realmente não me sentia o protagonista da minha vida. Eu não me aceitava, eu não via como o amor que eu sentia por alguém do mesmo sexo que eu poderia ser certo ou que estava tudo bem eu vivenciar isso. Falar com todas as letras: “eu sou gay” doía só de imaginar.
Hoje, porém, eu entendo e, acima de tudo, aceito e QUERO ser o dono da minha vida, porque não há nada de errado em amar do jeito que eu amo e não tem por que ter medo de mostrar para as pessoas à minha volta quem eu realmente sou. Eu, hoje, abraço a mim mesmo e ainda bem.
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Uma playlist feita especialmente para você expressar seu orgulho!
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Minha velocidadeNão é um assunto fácil de se falar, até porque, para cada pessoa, é um processo diferente, uma velocidade diferente, uma experiência única. Ninguém me ensinou a ser gay e não é algo que você escute sobre desde pequeno (que sorte a de quem tem essa oportunidade), diferentemente do quanto a gente escuta que azul é uma cor de menino e rosa uma cor de menina. Inclusive é bem estranho pensar que qualquer um possa achar que faça algum sentido SER ENSINADO a ser você mesmo. Aos trancos e barrancos, um pouco devagar demais na minha opinião, eu venho dizer com todas as letras que, sim, eu sou gay e mais, eu tenho orgulho de poder vir dizer isso tão aberta e francamente, porque é uma delícia poder me sentir confortável a esse ponto, de encarar qualquer coisa que alguém vá responder a isso. Não importa quanto tempo eu levei para assumir isso, o importante é que agora posso viver de verdade.
Reflita sobre você mesmo e seja dono da própria história
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Não há nada erradoComo é difícil se convencer de que não há nada errado em amar alguém do mesmo sexo. Durante anos, eu sofri com aquilo que via no espelho e com tudo o que sentia dentro do peito. Eram as piadas na escola, os olhares tortos, os xingamentos cobertos de segundas intenções, era a falta de acolhimento em cada um dos espaços, era não se sentir em casa, nem mesmo dentro de mim. Cada mínimo detalhe do que eu passei construiu a versão que todo mundo vê hoje, aparentemente confiante, mas extremamente frágil ao toque, ao carinho, à empatia. Hoje, a aceitação pessoal me libertou de uma porção de amarras, mas eu ainda tenho medo e o suor escorre só de pensar em situações em que eu precise me expor para a aceitação social, como um grande evento de família. Ninguém deveria viver com receio de ser, de existir. Eu torço para que um dia eu saia na rua sem prestar atenção ou ligar para a reação das pessoas à minha volta, e sei que vou conseguir.
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Um dia leveAcho que é bem comum, enquanto crescemos, as pessoas perguntarem “qual seria o encontro perfeito para você?”. Eu não acho que minha resposta seja muito diferente da maioria das pessoas, mas, mesmo assim, gostaria de falar sobre o que seria esse encontro perfeito para mim: eu amo estar perto de alguma área verde, nem que seja uma pracinha com grama, um parque, uma árvore no meio do caminho, enfim... então, o lugar não importaria muito, mas teria que ter algo verde, só porque eu tenho certeza de que um sorriso meu estaria garantido. Fora isso, o resto é a mesma cena de filmes românticos, comer uma comida gostosa, parar para tomar alguma bebida gostosa, dividir talvez um sorvete, parar para ver a Lua... Acho que o que mais importa mesmo é uma companhia agradável, que faça com que eu me sinta leve e livre para ser quem eu sou, tudo igualzinho a uma comédia romântica tradicional, com a exceção de que essa companhia seria do mesmo sexo que o meu. E eu acho essa a parte mais incrível.
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Não preciso assumir nadaEu acho engraçado esse lance de “se assumir gay”, porque, convenhamos, alguém se assume heterossexual? Eu nunca vi. Então por que eu deveria fazer algo diferente? É chato demais esse padrão de heteronormatividade, de querer encaixar todo mundo em um padrão, seja de aparência, jeito, personalidade, sexualidade ou “atitudes”. Eu não sou menos ou mais gay porque virei para a minha família, para os meus amigos ou quem quer que seja e falei todas as palavras. A vida é minha, só eu sei o que sinto e o quanto me custa sentir qualquer coisa, então esse é um assunto que diz respeito somente a mim e, eventualmente, a quem eu decidir oferecer o meu amor e o meu carinho. Então, se acharam que esse era um relato de confissão, saibam que, na verdade, é uma mensagem de revolta, pedindo cada vez mais que vocês coloquem quaisquer padrões que imaginarem bem longe de mim.
Ame quem você quiser e inspire o mundo com esse amor!
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Perdão pelos motivos certosEu não queria começar esse texto com um pedido de desculpas, mas é mais forte que eu. Sempre que o assunto são vocês ou família, eu desmonto e me sinto de novo a criança amedrontada que eu era. Desculpem-me.
Não, eu não sou quem vocês esperavam que eu fosse, eu não tenho a personalidade que se esforçaram para construir, eu não gosto de todas as coisas que me apresentaram enquanto eu crescia. Eu, porém, não vou pedir desculpas por isso, porque seria como pedir desculpas por ser quem eu sou, o que eu não posso fazer. Eu nunca estive mais feliz ou mais confiante e adoro poder estar assim.
Estou me desculpando por não conseguir mais fingir abraços, afetos e, acima de tudo, por não ter mais disposição de esconder quem sou. Eu espero do fundo do coração que vocês entendam e que possam continuar abraçando essa “nova” versão minha, porque eu amo muito vocês e gostaria de continuar contando com cada um.
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Todo mundo sabiaNem adianta falar que “não sabia”, sério, eu não consigo entender como qualquer pessoa à minha volta, que realmente prestasse cinco minutos de atenção em mim, não conseguisse afirmar que eu, desde sempre, amei pessoas do mesmo sexo. Na verdade, pensando bem, acho que as pessoas que afirmam não saber de verdade são pessoas incríveis, porque elas não acreditam no padrão e nos estigmas que todo o resto acredita.
Enfim, fico feliz que algumas pessoas esperaram até eu ter a iniciativa de tocar no assunto, de “me assumir”, mas também agradeço demais por todos que estiveram ao meu lado, independentemente de qualquer coisa, fazendo ser desnecessário esse ato. É incrível se sentir parte do mundo, sendo a pessoa que sempre sonhei em ser. Então, se você é uma das pessoas que “não sabiam”, agora está sabendo. Prazer, viu?!
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Viagem rumo à liberdadeÀs vezes, eu me pego pensando sobre como seria viajar para algum lugar onde ninguém me conhece, nunca ouviu falar nada sobre mim. Aliás, já sonhei com essa situação algumas vezes, mas o engraçado é que nunca consegui me decidir em como EU me apresentaria para esse novo lugar. Que roupa deveria vestir? Deveria mudar o jeito que eu falo? Cortar ou pintar o cabelo? A pergunta sempre fica na minha cabeça “como eu teria que ser, para as pessoas me entenderem direito?”
Seja sua melhor companhia e viaje consigo mesmo
É exaustivo ter esses pensamentos e eu sempre chego mais ou menos a mesma conclusão: não tem como garantir o jeito que os outros vão olhar para mim e me entender. Logo, eu desisto dessa empreitada, de imaginar qual seria o destino perfeito.
Vou continuar tentando ser livre por aqui mesmo, sem ter medo de falar “hey, sou gay”, porque não tem nada de errado nisso, ainda que algumas pessoas me façam achar que tenha.
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Uma festança!O que eu queria de verdade era ter o poder de “sair do armário” e cair direto em uma festa enorme, onde teria purpurina, unicórnios, muito glitter e tudo o que as pessoas associam a “ser gay”. Porque, se fosse assim, eu poderia gastar toda a energia de uma vez, poderia contar para todo mundo junto e não teria de ficar me preocupando se fulano ou ciclano entenderam certo. Eu queria festejar quem eu sou, a beleza de me aceitar e me tratar com gentileza, porque não foi fácil (e acho que nunca vai ser) encarar um mundo em que ser como eu sou é visto como “errado” ou “fora dos padrões”.
A sociedade é capaz de amar histórias com magos, dragões e seres que nem existem, mas incapaz de mostrar empatia com alguém que só ama alguém do mesmo sexo que ela. Isso nunca fará sentido na minha cabeça.
Amar é lindo, simplesmente sentir e compartilhar esse sentimento, independentemente de quem seja o alvo do seu amor, são duas sensações mais preciosas que podemos ter no mundo.
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A simplicidade do detalheEu nunca vi alguém andar com um colar ou uma placa dizendo a sua fruta favorita, ou a cor de que mais gosta, ou a comida que adora. Quando você quer conhecer realmente alguém, você presta atenção nos detalhes, nas sutilezas e nas dicas que aquela pessoa lhe dá sobre quem ela é. Pensando assim, então, andar com uma camiseta ou sair gritando “eu sou gay” não deveria nem ser uma expectativa comum por aí. Quem me conhece ou quem quer me conhecer de verdade sabe mais sobre mim pelas coisas que eu não falo, do que por muitas palavras que saem da minha boca. E eu pretendo continuar sendo assim.
Aprenda a ter mais empatia com o mundo ao seu redor
Se você que está lendo, esperava algo como uma confissão cheia de sentimentalismo e que o arrancasse lágrimas, sinto decepcioná-lo, mas eu posso lhe garantir que tenho coisas muito mais legais para mostrar do que simplesmente dizer se eu gosto de meninos ou meninas.
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