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Poemas e poesias de Paulo Leminski

Dê uma olhada nos poemas de um dos maiores poetas da literatura brasileira.

24/08/1944 07/06/1989
Um dia vai ser Paulo Leminski

Pelos caminhos que ando
um dia vai ser
só não sei quando.


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Bem no fundo Paulo Leminski

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela -- silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás nã há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.


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Pergunte ao sapo Paulo Leminski

Noite alta
lua baixa
pergunte ao sapo
o que ele coaxa.


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Se Paulo Leminski

Se
nem
for
terra
se
trans
for
mar.


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Na minha a tua ferida Paulo Leminski

Essa é a vida que eu quero,
querida
encostar na minha
a tua ferida.


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Não fosse isso Paulo Leminski

Não fosse isso
e era menos
não fosse tanto
e era quase.


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Coração PRA CIMA Paulo Leminski

Coração
pra cima
escrito embaixo
frágil.


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Quem for louco que volte Paulo Leminski

Vida e morte
amor e dúvida
dor e sorte
quem for louco
que volte.


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Um bom poema leva anos Paulo Leminski

Um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto.


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Três Metades Paulo Leminski

Meio dia,
um dia e meio,
meio dia, meio noite,
metade deste poema
não sai na fotografia,
metade, metade foi-se.

Mas eis que a terça metade,
aquela que é menos dose
de matemática verdade
do que soco, tiro, ou coice,
vai e vem como coisa
de ou, de nem, ou de quase.

Como se a gente tivesse
metades que não combinam,
três partes, destempestades,
três vezes ou vezes três,
como se quase, existindo,
só nos faltasse o talvez.


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Casa com cachorro brabo Paulo Leminski

Casa com cachorro brabo
meu anjo da guarda
abana o rabo.


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É tudo o que sinto Paulo Leminski

Inverno
É tudo o que sinto
Viver
É sucinto.


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Rio do mistério Paulo Leminski

Rio do mistério
que seria de mim
se me levassem a sério?


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Matéria é mentira Paulo Leminski

Essa idéia
ninguém me tira
matéria é mentira.


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Esta vida é uma viagem Paulo Leminski

Esta vida é uma viagem
pena eu estar
só de passagem.


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Amei em cheio Paulo Leminski

Amei em cheio
meio amei-o
meio não amei-o.


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Saudosa Amnésia Paulo Leminski

Memória é coisa recente.
Até ontem, quem lembrava?
A coisa veio antes,
ou, antes, foi a palavra?
Ao perder a lembrança.
grande coisa não se perde.
Nuvens, são sempre brancas.
O mar? Continua verde.


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Perto do osso a carne é mais gostosa Paulo Leminski

Sossegue coração
ainda não é agora
a confusão prossegue
sonhos a fora

calma calma
logo mais a gente goza
perto do osso
a carne é mais gostosa.


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Nem fale em amor / que amor é isto Paulo Leminski

Você está tão longe
que às vezes penso
que nem existo.

Nem fale em amor
que amor é isto.


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Amor Bastante Paulo Leminski

Quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante.


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Amar é um elo Paulo Leminski

Amar é um elo
entre o azul
e o amarelo.


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Por um lindésimo de segundo Paulo Leminski

Tudo em mim
anda a mil
tudo assim
tudo por um fio
tudo feito
tudo estivesse no cio
tudo pisando macio
tudo psiu

tudo em minha volta
anda às tontas
como se as coisas
fossem todas
afinal de contas.


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O Hóspede Despercebido Paulo Leminski

Deixei alguém nesta sala
que muito se distinguia
de alguém que ninguém se chamava,
quando eu desaparecia.
Comigo se assemelhava,
mas só na superfície.
Bem lá no fundo, eu, palavra,
não passava de um pastiche.
Uns restos, uns traços, um dia,
meus tios, minhas mães e meus pais
me chamarem de volta pra dentro,
eu ainda não volte jamais.
Mas ali, logo ali, nesse espaço,
lá se vai, exemplo de mim,
algo, alguém, mil pedaços,
meio início, meio a meio, sem fim.


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Marginal é quem escreve à margem Paulo Leminski

Marginal é quem escreve à margem,
deixando branca a página
para que a paisagem passe
e deixe tudo claro à sua passagem.

Marginal, escrever na entrelinha,
sem nunca saber direito
quem veio primeiro,
o ovo ou a galinha.


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